Porque dormimos?


Porque dormimos? É um dos grandes mistérios da biologia. Para os menos conhecedores de biologia, a resposta pode parecer fácil: dormimos porque ficamos cansados. Mas essa não é a resposta correta. O ficar cansado é o efeito e não a causa - se não dormirmos, o cérebro começa a desligar-se aos poucos, mas ainda ninguêm sabe qual a origem do ato de dormir em primeiro lugar. No entanto, muitos cientistas estão a dedicar a sua carreira a tentar solucionar esse mistério.

Apesar de ainda não sabermos a resposta, sabemos que dormir parece ser um erro da natureza. Os organismos passam grande parte da sua vida a dormir, quando podiam utilizar esse tempo para procurar comida, lutar por mais territórios e parceiros sexuais. Para além disso, quando um animal dorme fica mais vulnerável a predadores; é exatamente por essa razão que nos refugiamos num lugar quando chega a altura de dormir e, em última análise, porque temos casas, tocas, ninhos e grutas. Para nós, seres humanos que dormimos em apartamentos, não há grandes predadores para nos preocuparmos, no entanto, quando eramos caçadores-recoletores, dormir era potencialmente perigoso. Para os mamíferos marinhos, que nos oceanos estão vulneráveis por não terem onde se refugiaram, ocorre algo engraçado: as baleias, por exemplo, quando dormem deixam uma parte do cérebro ativa enquanto que a outra parte dorme, sendo que depois trocam. Podemos dizer que elas dormem, literalmente, com um olho aberto.

Visto isto, torna-se evidente que a razão para dormirmos deve ser importante. Se as hipóteses de sobrevivência do organismo diminuem no tempo que passa a dormir, a razão só pode ser mesmo extremamente importante. Existe uma observação que comprova isso: os organismos com imenso poder na competição interespecífica (competição entre espécies) - como, por exemplo, os leões - são os que menos tempo dormem.

Experiências recentes demonstraram que os fetos passam a maior parte do tempo na barriga da mãe a… sonhar! Ora, sabíamos que dormiam muito, mas sonhar? Com que sonham eles? Não se sabe, e parece ser impossível descobrir, mas está comprovado que encontram-se a maior parte do tempo no estado REM. Apesar da falta de mais dados, considero essa descoberta importante. Pode ser que a razão principal para dormirmos seja mesmo o ato de sonhar. Será que o ato de sonhar é assim tão importante que cause com que o organismo se canse para poder dormir?

Carl Sagan abordou o tema do sono de forma brilhante e propôs uma teoria para explicar porque dormimos. Ele disse, e muito bem, que quando dormimos o complexo reptiliano (a parte mais antiga do cérebro) se encontra a dominar o ato do sonho, enquanto que o neocórtice (a parte mais recente do cérebro) se encontra ocupado a processar as memórias do dia, escolhendo quais as que vão para a memória de longo prazo e as que são descartáveis e vão para o inconsciente. Como o neocórtice é recente (algumas dezenas de milhões de anos) e o complexo reptiliano é muito antigo (muitas centenas de milhões de anos), o neocórtice não consegue permanecer desperto por muito tempo, e por isso o nosso corpo cansa-se rapidamente, enquanto que o reptiliano procura dominar e voltar aos tempos antigos, mas só consegue fazer isso no sonho - segundo Carl Sagan, dormimos desde que as partes mais recentes do cérebro apareceram na natureza (Sagan precisa o ato de dormir ao aparecimento do sistema límbico, a parte do cérebro responsável pelas emoções). Grosso modo, Sagan diz que o neocórtice ainda não está completamente desenvolvido e por isso o reptiliano aproveita para tentar tomar o poder.

Estudos recentes demonstraram que o sistema límbico e o hemisfério direito do neocórtice também participam ativamente nos sonhos, e por isso a teoria de Carl Sagan talvez seja apenas a "superfície" de algo mais complexo.

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