Sabedoria Tibetana

Os monges tibetanos têm uma forma sublime de encarar a paralisia do sono: aceitar o sofrimento, a angústia, o misterioso e o problemático desses episódios, como um oceano que aceita as correntes conflituosas de um rio e permanece eternamente calmo. Eles não encaram o «prazer» e a «dor» como entidades separadas - como a civilização ocidental, infelizmente, faz -, mas como duas faces da mesma moeda. A moeda permanece sempre em rotação, no confronto inevitável das forças da vida, sendo impossível permanecer, para sempre, somente com uma das faces visíveis. Dito de outro modo: o sofrimento não é uma objeção à vida, é parte integrante da mesma!

Segundo o Budismo, após a nossa morte enfrentamos demónios que tentam, de todas as formas possíveis, obter a nossa atenção para serem, por nós, encarados como reais. O morto não consegue distinguir entre a ilusão e a realidade, e por isso comete sempre o erro de tomar esses demónios - que são apenas ilusões - como entidades objetivas. Quando o faz, renasce novamente num outro corpo e perde uma grande oportunidade de se libertar deste ciclo infinito; se ao menos o morto soubesse que esses demónios não são reais, que estão apenas na sua mente, ele atingiria o Nirvana.

É exatamente por essa razão que os monges tibetanos induzem a paralisia do sono há milhares de anos: ela serve como uma espécie de "treino" para o momento decisivo - o momento da morte -, para que o monge, com a experiência adquirida, não encare os demónios como entidades objetivas. Através da paralisia do sono, através da tentativa de permanecer calmo durante esses episódios, o tibetano ganha um poder enorme de concentração e uma extraordinária habilidade para não se deixar levar por ilusões, de forma a poder atingir o Nirvana após a morte física.

Bem, a maioria de nós não somos budistas, pelo menos aqui no Ocidente, mas essa sabedoria pode ser útil para encararmos a paralisia do sono com uma maior tranquilidade. Recorde os ensinamentos dos monges tibetanos para a próxima vez que sofrer um episódio de paralisia do sono: os demónios não são reais, estão apenas na nossa mente. Não devemos ter medo do sofrimento, não devemos fugir da vida; devemos aceitar a vida tal como ela é, com calma e com a disciplina do inteleto superior. Estes são ensinamentos poderosos, que pode utilizar para a paralisia do sono e para a sua vida em geral. A vida é uma eterna rotatividade de «prazer» e «dor», de «amor» e «sofrimento», de «bem» e «mal». A vida deve ser amada tal como ela é!

A felicidade que a civilização ocidental procura é uma ilusão: para a vida, essa ideia de «felicidade eterna» é estranha. Retirar o sofrimento da vida é impossível: a vida não se pode dividir, ela permanece sempre em constante devir, numa unidade jubilante e afirmativa. O sofrimento de Heitor não significa nada, pois a vida continua a ser afirmada por Aquiles; do mesmo modo, o nosso sofrimento não significa nada, pois a vida continua a ser afirmada através de inúmeros seres. A individualização é apenas um "jogo de superfície". Por isso mesmo, não devemos ter medo da paralisia do sono (não devemos fugir da vida como fazem os pessimistas, nem a distorcer como fazem os otimistas): devemos encarar o rio conflituoso como se fossemos um oceano; na realidade, não existem rios (seres individuais), apenas existe o oceano (a vida).

Comentários

  1. Belo post. Ontem tive minha primeira experiência com a paralisia, senti uma presença demoniaca querendo tomar meu corpo. Já estou mais tranquilo.

    ResponderEliminar
  2. Parabéns pelo post Carlos, está muito bom!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Relato de Mariana

Estado Vibracional

Relato de Dayana